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domingo, 2 de maio de 2010

Orientação Vocacional e Profissional

Orientação Vocacional e Profissional

No ano de 2004 foi publicado um novo livro na área da orientação vocacional/profissional intitulado “Orientação vocacional: alguns aspectos teóricos, técnicos e práticos” organizado pelas psicólogas Zandre Vasconcelos e Inalda Oliveira. No livro em questão temas já discutidos em outros trabalhos são abordados em novas perspectivas, tendo em vista a pluralidade de experiências dos diferentes autores nele incluídos e, por conseguinte, os novos olhares lançados sobre esses temas. Isso nos leva a comen- tá-lo e indicá-lo como leitura complementar para todos aqueles profissionais, sejam eles psicólogos ou não, envolvidos com a problemática da orienta- ção vocacional/profissional.

O livro comentado tem limites que se justificam pela própria natureza e complexidade da orientação profissional. Não por acaso seu subtítulo alerta para esse aspecto ao dizer que traz apenas “alguns as- pectos teóricos, técnicos e práticos”. Apesar desses limites, trata-se de uma tentativa bem-sucedida das organizadoras da obra de compartilhar conhecimen- tos teóricos e experiências práticas com outros pro- fissionais, tendo em vista o crescimento significativo da demanda pelos serviços de orientação vocacio- nal/profissional. Como afirma Rosane Levenfus, em seu prefácio ao livro, a orientação profissional está intimamente ligada à construção de projetos de vida,

sendo um trabalho de muita responsabilidade, que exige, portanto, máxima atenção do orientador para o bom desenvolvimento de seu ofício. Para tanto, necessitam esses profissionais de uma formação con- sistente com base em material adequado, que segu- ramente corresponde ao texto em questão.

Já em seu capítulo introdutório, Zandre Vascon- celos nos remete a um breve histórico da orientação vocacional/profissional. À luz dos conceitos de Le- venfus (1997, citado por Vasconcelos & Oliveira,

2004, p. 24) e outros autores, discorre sobre as di- ferenças de terminologias utilizadas na área, como os próprios termos de orientação, vocação e profis- são. Tais discernimentos são essenciais para a me- lhor compreensão das matérias dos capítulos vindouros e posteriormente para a própria operaci- onalização da orientação, o que é tratado pela auto- ra ao longo deste capítulo e exemplificado nos capítulos V e IX, nos quais se discorre sobre proce- dimentos de orientação profissional a serviço da re- orientação de carreira e para aplicação na escola.

As relações entre adolescência, escolha profis- sional e projetos de vida são temas recorrentes en- tre os orientadores profissionais. Sem perder de vista o entorno socioeconômico dessas relações, Lavínia Ximenes, Caioá Lemos e Maria Flávia Ferreira te- cem considerações sobre o lugar de destaque da

escolha profissional na vida dos jovens. O processo de escolha profissional deve ser considerado uma das experiências mais importantes para esses jovens, podendo ainda estar associado, de maneiras diver- sas, ao desenvolvimento de sua identidade.

Nos capítulos quatro, cinco e seis, Inalda Oli- veira, Martha Silveira, Maria Izabel Calheiros e Ja- neide Araújo nos trazem as principais perspectivas de discussão e de trabalho com o tema do vestibu- lar, bem como dos seus efeitos no grupo familiar e especialmente na vida do jovem orientando. Outros temas mais relacionados ao entorno social passam pelo crivo dessas autoras. Desemprego, chances de carreira, empregabilidade ou outros temas de inegá- vel relevância na contemporaneidade devem ter suas implicações no processo de orientação profissional e nas discussões sobre o vestibular. As transforma- ções que estão ocorrendo no contexto do trabalho trazem suas conseqüências diretas para a elabora- ção de estratégias e para a formulação de modelos de orientação de jovens.

Atravessa todos os capítulos uma preocupa- ção em torno da construção da identidade profis- sional. Seja em conseqüência do processo de orientação profissional ou das próprias experiên- cias de vida do orientando, a construção de uma identidade que compreende a identidade profissio- nal é tema prioritário: Lavínia de Melo e Silva Xi- menes (p. 46) afirmam, quando tratam dos projetos de vida dos jovens, que a maneira como cada ado- lescente redireciona sua vida, dando-lhe novos sig- nificados, a partir de como o trabalho, mediante a escolha profissional, é apreendido como valor e sím- bolo, traduz um momento decisivo para a estrutu- ração de suas identidades e modos de organização da subjetividade. No processo de orientação há recursos técnicos que ativam no orientando a per- cepção de tais identificações. No capítulo sete, Maria da Glória Hissa e Marita Pinheiro sugerem a técnica intitulada “Cidade das Profissões sem nome” (CPSN) para a construção de identificações a se- rem trabalhadas no decorrer do atendimento em orientação profissional. Segundo nomeadas auto- ras, por meio desse instrumento o orientando pode perceber as profissões como um conjunto aberto de atividades ocupacionais e identificar-se com um
mundo dinâmico, sempre em transformação: “Per- cebe que esse conjunto inclui tarefas, tem exigên- cias, é depositário de status e canalizador de valores, atitudes e competências”, (p.125).

Em semelhante perspectiva de relato de vivên- cias e experiências que inclui a sugestão de instru- mentos e modelos de ação no processo de orientação vocacional, Lucy Melo-Silva e Mariana Noce dis- correm sobre as possibilidades e limites na utilização de testes psicológicos em orientação profissional e mais particularmente sobre o Teste de Fotos de Pro- fissões (BBT) enquanto método projetivo em orien- tação profissional. Para tanto, lançam mão de estudos de caso com dois jovens adolescentes. Nesses es- tudos o BBT-Br é apresentado como método pro- jetivo, focalizando suas vantagens e desvantagens e as possibilidades de sua utilização no âmbito da orien- tação profissional. A partir da discussão dos dois casos apresentados, buscam obter informações sig- nificativas sobre o perfil de interesses e motivações do indivíduo em processo de orientação. Segundo Melo-Silva e Noce, o BBT pode ser utilizado como recurso auxiliar, tanto individual quanto em grupo, visando corroborar, retificar ou ampliar os dados obtidos pelo orientador nas entrevistas diagnósticas, sendo sua aplicação, portanto, recomendada nesse momento do processo.

As perspectivas futuras da orientação profissi- onal a partir das reflexões de uma experiência no ensino médio são tema do nono capítulo, que tem como autores André Souza, Luiz de Toledo, Apare- cida Norma Martins e Cecília Helena Vardi. Por meio de uma reflexão do papel social da escola, acredi- tam os autores desse capítulo ser pertinente o de- senvolvimento de propostas que visem apoiar os alunos no processo de escolha de uma carreira e de uma faculdade ao final do ensino médio. A sugestão da inclusão de disciplina no currículo escolar sobre escolha, autoconhecimento e informação profissio- nal é parte do trabalho a ser realizado por orienta- dores no âmbito escolar. Segundo os próprios autores, por se tratar de uma experiência relativa- mente nova no seio da escola deve ser melhor anali- sada e avaliada.

Fechando o livro, a autora do décimo capítulo, Josiane Golin, nos leva a uma reflexão sobre a formação e preparação dos futuros orientadores voca- cionais nos cursos de graduação em Psicologia. A formação desses profissionais passa por uma con- ceituação correta do que seja essa área de estudo e atuação profissional, bem como pelas possibilida- des que a formação dos futuros orientadores possa oferecer em termos dos objetivos da orientação pro- fissional. O capítulo intitulado “Pensando a Forma- ção: relato da prática em orientação profissional na graduação” sugere a construção da disciplina de orien- tação profissional no âmbito da formação do psicó- logo, levando em conta a sua aplicabilidade no universo das escolas públicas. Aspectos da atual for- mação profissional diante das transformações histó- rico-sociais e do compromisso ético do indivíduo, atenção a metodologias vivenciais que levem em conta a apropriação do conhecimento construído nas bases teóricas, bem como a aproximação e a inter- venção na comunidade social com a qual o estudan- te deve conviver são considerados para essas reflexões sobre o quê ensinar e como formar os fu- turos orientadores vocacionais.

A evolução das profissões, das carreiras profis- sionais, do mercado de trabalho, juntamente com a cres- cente demanda dos jovens em situação escolar de compreensão da sua vivência específica de transição profissional são um desafio para o orientador. Trata-se de jovens ansiosos por terem garantida uma futura e acertada inclusão profissional. Tais jovens, as circuns- tâncias em que se encontram e a necessidade de res- postas a questões em torno do mundo da formação profissional e do trabalho exigem uma permanente bus- ca de novos conhecimentos e estratégias da psicologia aplicada à orientação vocacional/profissional.

A presença de disciplinas teóricas e de ativida- des práticas nos cursos de graduação em Psicologia não é obrigatória, mas pode contribuir para aumen- tar o leque de oportunidades dos estudantes e futu- ros profissionais de Psicologia. Trabalhos como o de Zandre Vasconcelos e Inalda Oliveira subsidiam tais iniciativas acadêmicas e contribuem, com novos conhecimentos teóricos e técnicos na área, para a formação de profissionais em orientação vocacio- nal/profissional.

 Texto de Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá/Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
 

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